segunda-feira, 28 de maio de 2012

Entrevista ao escritor José Fanha




 José Fanha esteve na nossa escola no passado dia 22 de maio. O escritor nasceu em Lisboa a 19 de fevereiro de 1951. Licenciado em Arquitetura é hoje professor do Ensino Secundário, mas sem exercer. É guionista para televisão e cinema, poeta, declamador, autor de letras para canções e de histórias para crianças, autor de textos para televisão, para rádio e para teatro e, também pintor nos tempos livres.
     Participou, entre muitas outras atividades, em teatro (como fundador e animador), participou em concursos de televisão, colaborou em programas de rádio e tem trabalhado em adaptações de inúmeros textos teatrais ou televisivos.


Ricardo - Na sua infância já gostava de ler e de escrever?

José Fanha - Já. Muito, porque tive uma avó, vivi com uma avó que lia muito e me contava histórias e me incentivava a ler. Depois havia muitos livros lá em casa e tornava-me um explorador das prateleiras dos livros.

Ricardo - Tem formação em Arquitetura. O que é que o motivou para a escrita?

José Fanha - Foi desde pequeno com a minha avó. Foi esta minha avó que me incentivou muito.

Ricardo - De onde lhe vem a inspiração para criar as histórias e as personagens?

José Fanha - Vem de uma gaveta cheia de inspiração que eu tenho lá em casa… Ah! Ah! Não, a inspiração vem-me da vida!

Ricardo - De todas as obras publicadas qual é a sua preferida?

José Fanha - "A porta", porque é aquela onde eu acho que pus mais aquilo que eu sou. Fala mais de mim sem que eu entre no livro.

Ricardo - Porque decidiu escrever histórias para crianças?

José Fanha - Porque tive filhos e escrevi o primeiro livro para contar histórias aos meus filhos. E depois achei que se os meus filhos gostassem os outros também haviam de gostar.

Ricardo - Gosta mais de escrever para crianças ou para adultos? Porquê?

José Fanha - Arranjei uma frase fantástica para responder a essa pergunta: “Gosto de escrever para crianças que queiram crescer e para adultos que ainda sejam um bocadinho crianças”.

Ricardo - Como se sente quando termina e publica um livro?

José Fanha - Sinto-me muito feliz. Sinto-me muito orgulhoso. E quero ler aquela história a toda a gente. Ah! Ah! Ah!

Ricardo - Já ganhou algum prémio literário?

José Fanha - Acho que não…

Ricardo - Está a escrever algum livro? Pode dizer-nos qual?

José Fanha - Estou a escrever vários. Um deles…estou a fazer um do género do Dentola, Dentinho e Dentão, mas agora é sobre os problemas da pele. A intenção é fazer uma série de livrinhos para meninos do pré-escolar que sejam uma espécie de lengalengas, mas que lembrem, a brincar, os cuidados médicos.

Ricardo - Que conselho daria a alguém que deseje vir a ser escritor?

José Fanha - Que escreva. Ah! Ah! E que leia muito.

Ricardo - Também escreve poesia. Normalmente em que se inspira?

José Fanha - Isso é mais difícil de explicar. A poesia não é assim … As próprias palavras ou, às vezes, um acontecimento, desencadeia a vontade de escrever um poema. É difícil de explicar… às vezes qualquer pequenina coisa: ver uma abelha à volta de uma flor, ouvir uma palavra, ver uma pessoa de que gosto ou de que não gosto, desencadeia o fluir poético. Isto soa um bocadinho pretensioso!...

Ricardo - Em que se inspirou para escrever a coleção Alex ponto com?

José Fanha - Eu gosto de brincar: e se… Foi o: e se…que me inspirou. Nós nos jogos de computador encontramos as pessoas que têm muitas vidas. E se as pessoas só tivessem… E se caissem dentro de um jogo. E em vez de terem 10 vidas, só tivessem uma, o que aconteceria? Foi essa a ideia.
Ricardo - Tem trabalhado com outros escritores, por exemplo nas obras Mistérios de de Sintra e Código d’Avintes. Prefere escrever sozinho ou com outros escritores?

José Fanha - Ambas as coisas. Uma de cada vez. Ah! Ah! Ah!

Ricardo - E o teatro como surge na sua vida?

José Fanha - Ah! Isso foi antes de começar a dizer poesia em público. O teatro é uma paixão muito grande!!! Tenho muita pena de não ter sido ator de teatro. E sempre que escrevo coisas para teatro, para cinema e para televisão, entro um bocadinho como ator para matar saudades.

Ricardo - Que papel tem a música na sua vida? E a televisão e a rádio?

José Fanha - A televisão! Eu deixei a televisão, mas gosto de escrever para televisão. Pode parecer estúpido, mas não é! Acho que hoje o que se faz para televisão é, em geral, muito mau, mas gosto muito, é muito giro escrever para televisão. A rádio é mais engraçada!
Fazer rádio tem muita piada, porque a gente sabe, a gente sente quase quem está do outro lado. Na rádio a gente sente que está ali alguém a ouvir-nos. Na televisão não sei quem está a ver-nos. Até parece que sei quem é o senhor que está ali a ouvir-me, percebes?

Ricardo - O que é que achou da nossa escola e dos nossos alunos?

José Fanha - Olha, esta última sessão em que tu estiveste foi absolutamente fantástica! São uns jovens interessadíssimos. Tivemos comunicação notável. Vocês foram muito simpáticos. Fizeram perguntas muito interessantes. Olha, foi mesmo das boas sessões que eu tenho na memória dos últimos tempos.

Ricardo - Qual a mensagem que quer deixar aos nossos alunos?

José Fanha - Eu não tenho mensagens para deixar. Gostava muito de voltar aqui a esta escola daqui a dez anos e todos serem muito leitores e lerem muitos livros. Portugal é um país pobre também porque não lê. Nós lemos pouco! Nós temos que vencer esta batalha da leitura. É uma batalha muito dura e em que está envolvida muita gente: está o Plano Nacional de Leitura, estão as Bibliotecas Escolares, as Bibliotecas Municipais, estão as editoras, estão os escritores, estão os poetas… Estamos a tentar mudar esse panorama. Estamos a fazer com que os portugueses leiam mais. São vocês, da vossa idade, que vão conseguir fazer isso, que vão dar o passo em frente se vocês também se tornarem leitores furiosos. Leitores furiosos! (risos). Portanto a mensagem é: leiam, leiam, leiam. Eu só sei quem sou, porque leio e porque escrevo. Porque é a ler histórias de outras pessoas que eu descubro o que é que eu sou. Porque comparando com o que leio dos outros, eu vou percebendo melhor porque é que sou assim ou assado.

Ricardo - Muito obrigado por ter vindo à nossa escola e ter dado esta entrevista.

Esta entrevista foi preparada pelos alunos do 6º D, na aula de Língua Portuguesa, com a colaboração da professora Isilda Menezes. Foi feita ao escritor, no fim das sessões, pelo Ricardo Duarte e gravada digitalmente. Também houve a colaboração da equipa da biblioteca para fazer a transcrição da entrevista gravada.

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